quinta-feira, maio 17

Da lenda à realidade



Conta a lenda que naquele tempo antigo, havia umas freiras que viviam no Convento da Caloura e que se sentiam muito tristes, porque o povo de Água de Pau andava muito afastado da fé e do temor a Deus.




As religiosas rezavam fervorozamente para que aquela população voltasse a ter fé e amor ao Senhor. Tinham esperança que se houvesse uma imagem nova no Convento, talvez a atitude dos paroquianos se alterasse e despertassem de novo para a fé. Escreveram uma carta a sua Santidade o Papa, pedindo-lhe a imagem que tanto queriam, mas que não tinham dinheiro para comprar. O pedido das religiosas não foi atendido, porque na altura não podia ser.





As freiras ficaram muito tristes, porém, não desesperaram e continuaram a rezar com fé. Estava-se numa época de pirataria nos mares dos Açores e aconteceu que, passando um navio ao largo da ilha, foi atacado e totalmente destruído por corsários.



Muitos destroços do navio vieram dar à costa e, um certo dia, depois das freiras tratarem do jardim, foram descansar a olhar para o mar. Viram, na água, uma caixa perto da costa que parecia ter uma luz lá dentro.



Desceram a rampa a correr, puxaram o caixote, abriram-no e viram que era um lindo busto de Cristo, de olhar vivo, expressão humilde e serena. Acharam que tinha sido um milagre porque Santo Cristo tinha escolhido aportar à ilha de São Miguel, cujo povo costumava ser muito crente. Quando o povo de Água de Pau tomou conhecimento do acontecimento, ficou muito feliz. A fé dos habitantes da Vila cresceu, a fama dos milagres de Santo Cristo espalhou-se por toda a ilha. Durante anos, Santo Cristo foi venerado no Convento da Caloura, mas as freiras, que sofriam constantemente os ataques dos piratas, fugiram e foram refugiar-se em Ponta Delgada, no Convento da Esperança, levando consigo a imagem , onde ainda hoje se encontra.





Na realidade a origem desta imagem está envolta em mistério, mas, tudo indica que terá sido oferecida pelo Papa a duas religiosas do primeiro convento de freiras dos Açores, existente no Vale de Cabaços (Caloura), no século XVI. Porque se tratava de um local ermo, junto ao mar, afastado da comunidade e exposto a ataques de piratas, as irmãs resolveram transportar a imagem para o Convento de Nossa Senhora da Esperança em Ponta Delgada, fundado em 1541.



O Senhor Santo Cristo dos Milagres permanece no Convento desde essa data e o seu culto foi perpetuado pela dedicação da Venerável Madre Teresa da Anunciada (1658-1738), que mandou erigir uma capela para resguardo do Ecce Homo, no coro baixo da Igreja do Convento.
A devoção e a fama dos milagres concedidos por intervenção do Senhor Santo Cristo dos Milagres alastrou de tal forma que, aquando da morte da religiosa, em 1738, o seu culto encontrava-se já espalhado por S. Miguel e outras ilhas dos Açores, chegando à corte de D. João V.



O fervor religioso dos açorianos pelo Senhor Santo Cristo está solidamente enraizado no povo, como símbolo de um forte elo de identidade cultural e religiosa.




Professora Elsa Gouveia

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