Os Romeiros
Carreiro da Costa diz: A cruz do redendor não vinha apenas desenhada nas velas, mas sim também gravada nas almas, como um sinal de piedade, de fé."
Álvaro Saraiva e Teixeira Dias
"As romarias tiveram origem nas calamidades públicas motivadas pelos terramotos que em 1522 arrasaram Vila Franca do Campo. Nesses momentos de aflição, os micaelenses imploraram a misericórdia divina, por intermédio da Santissima Virgem, e sentiam tão viva a sua protecção que jamais, desde então, deixaram esta piedosa prática, conservando-a ainda hoje na sua característica primitiva. Todos os anos, durante a Quaresma, dezenas de ranchos de romeiros percorrem a ilha de S. Miguel, ao longo de uma semana e num, trajecto de cerca de 200 quilometro, com as mínimas condições de sustento acomodação. O «MESTRE» é a primeira das figuras principais do rancho, pois é ele quem preside ao auto processional de quem dirige as orações. A segunda posição hierarquia cabe ao «Procurador das Almas», que recebe durante o trajecto os pedidos das pessoas para as orações aplicadas a diversas intenções. A terceira figura titulada do rancho é o«Guia», que segue na frente de todos os outros romeiros, pela sua experiência dos caminhos que os levam a todas as capelas, ermidas e igrejas onde haja uma invocação à Virgem Santíssima."
Guia de S. Miguel, Coordenação de José Vieira
"De todos os estratos económico-sociais, o mesmo trajar, o mesmo entoar da Avé-maria dolente, que a aflição e a fé os fazem reencontrar na sua expressão mais simples - a humildade. Durante oito dias, em duas longas filas, rezando alto e caminhando, eles aí vão percorrendo as estradas de S. Miguel, parando em todas as igrejas onde existe a invocação da Virgem, numa simplicidade comovente, que a todas toca. Xale, lenço, uma cevadeira caida das costas, bordão na mão, descalço ou não, conforme a promessa e o seu rosário onde os quilómetros da estrada se contam por Avé-marias.
À frente vai o guia, que é em geral conhecedor do caminho e veredas. A meio o Procurador das Almas, que de vez em quando manda rezar pelos defuntos e, por fim o Mestre, que nem sempre é o mais velho e que a todos trata por irmãos.
À noite, a cama alheia, a esmola da sopa que os conforta e a água quente que do alguidar fumega num último sopro de alívio, para os pés cansados, na casa que alberga(...).
Depois, o "Procurador das Almas" que ao dirigir as preces e ao pedir aplicação delas por intermédio do Proclamador das Almas que tem de o fazer em alto pregão de modo a ser ouvido no rancho inteiro. É quem recebe durante o trajecto os pedidos das diferentes pessoas, para orações, aplicados a intenções diversíssimas, e daqui lhe vem o nome de "Procurador", e das "Almas" lhe chamam porque de motu-próprio de quando em quando, manda rezar todo o rancho:
-Pelas almas do purgatório, Padre Nosso, Avé Maria.
E todo o crente que pede ao Procurador, alguma oração, fica por este facto obrigado a rezar tanto dessas orações quantos os romeiros que vão no rancho, que cada um deles reza a oração pedida.
Quem é o Procurador? Pergunta alguém da berma da estrada, e vai segredar-lhe de seguida uma oração pela alma dum ente querido ou por uma intenção particular. "
Apontamento Histórico Etnográfico - São Miguel/Santa Maria
Pesquisa realizada por:
Carlos R.
Diogo T.
Rafael P.