quinta-feira, maio 17

A Primeira Procissão

No ano de 1700, a Ilha de S. Miguel foi abalada por fortes e repetidos tremores de terra. Duravam estes já vários dias quando a Mesa da Misericórdia e grande parte da nobreza da cidade, vendo que os terramotos não cessavam, resolveram ir à portaria do Mosteiro da Esperança para levarem em procissão a Imagem do Santo Cristo.
Ao princípio da tarde desse dia 13 de Abril de 1700, juntaram-se as confrarias e comunidades religiosas. Concorreu igualmente toda a nobreza e inumerável multidão que, com viva fé, confiava se aplacaria a indignação divina com vista da santa Imagem.




Caminhava já a procissão em que todos iam descalços; e logo que a veneranda Imagem se deixou ver na portaria, foi tão grande a comoção em todos que a traduziram em lágrimas e suspiros, testemunhos irrefragáveis da contrição dos corações.
Levaram o andor do Santo Cristo as pessoas mais qualificadas em nobreza. Andando a procissão, ia a veneranda Imagem entrando em todas as igrejas onde, em bem concertados coros, Lhe cantavam os salmos "Miserere mei Deus".




Saindo da Igreja dos Jesuítas, e caminhando para a das Religiosas de Santo André, não obstante toda a boa segurança e a cautela com que levavam a santa Imagem, com assombro e admiração de todos, caiu esta fora do andor e deu em terra. Foi esta queda misteriosa, porque não caiu a Imagem por algum dos lados do andor, como era natural, senão pela parte superior do docel.
O povo ficou aflito com sucesso tão estranho. Uns feriam os peitos com as pedras; outros, pondo a boca em terra, que julgavam santificada com o contacto da santa Imagem, pediam a Deus misericórdia; estes, tomando os instrumentos de penitência, davam sobre si rijos e desapiedados golpes, regando a terra com o sangue das veias; aqueles publicavam em alta voz as suas culpas, como causas da indignação do Senhor; e todos, com clamores e enternecidos suspiros, pediam a Deus que suspendesse as demonstrações da sua justa vingança.




Verificaram, então, que a santa Imagem não experimentara com a queda dano considerável, pois somente se observou no braço direito uma contusão. A Imagem foi lavada e limpa no Convento de Santo André e, colocada outra vez no andor com a maior segurança, continuou a procissão, na qual as lágrimas e soluços do povo aflito embargavam as preces, até que, bem de noite, se recolheu no Mosteiro da Esperança.
E a cólera divina se aplacou.
Texto retirado daqui.

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Da lenda à realidade



Conta a lenda que naquele tempo antigo, havia umas freiras que viviam no Convento da Caloura e que se sentiam muito tristes, porque o povo de Água de Pau andava muito afastado da fé e do temor a Deus.




As religiosas rezavam fervorozamente para que aquela população voltasse a ter fé e amor ao Senhor. Tinham esperança que se houvesse uma imagem nova no Convento, talvez a atitude dos paroquianos se alterasse e despertassem de novo para a fé. Escreveram uma carta a sua Santidade o Papa, pedindo-lhe a imagem que tanto queriam, mas que não tinham dinheiro para comprar. O pedido das religiosas não foi atendido, porque na altura não podia ser.





As freiras ficaram muito tristes, porém, não desesperaram e continuaram a rezar com fé. Estava-se numa época de pirataria nos mares dos Açores e aconteceu que, passando um navio ao largo da ilha, foi atacado e totalmente destruído por corsários.



Muitos destroços do navio vieram dar à costa e, um certo dia, depois das freiras tratarem do jardim, foram descansar a olhar para o mar. Viram, na água, uma caixa perto da costa que parecia ter uma luz lá dentro.



Desceram a rampa a correr, puxaram o caixote, abriram-no e viram que era um lindo busto de Cristo, de olhar vivo, expressão humilde e serena. Acharam que tinha sido um milagre porque Santo Cristo tinha escolhido aportar à ilha de São Miguel, cujo povo costumava ser muito crente. Quando o povo de Água de Pau tomou conhecimento do acontecimento, ficou muito feliz. A fé dos habitantes da Vila cresceu, a fama dos milagres de Santo Cristo espalhou-se por toda a ilha. Durante anos, Santo Cristo foi venerado no Convento da Caloura, mas as freiras, que sofriam constantemente os ataques dos piratas, fugiram e foram refugiar-se em Ponta Delgada, no Convento da Esperança, levando consigo a imagem , onde ainda hoje se encontra.





Na realidade a origem desta imagem está envolta em mistério, mas, tudo indica que terá sido oferecida pelo Papa a duas religiosas do primeiro convento de freiras dos Açores, existente no Vale de Cabaços (Caloura), no século XVI. Porque se tratava de um local ermo, junto ao mar, afastado da comunidade e exposto a ataques de piratas, as irmãs resolveram transportar a imagem para o Convento de Nossa Senhora da Esperança em Ponta Delgada, fundado em 1541.



O Senhor Santo Cristo dos Milagres permanece no Convento desde essa data e o seu culto foi perpetuado pela dedicação da Venerável Madre Teresa da Anunciada (1658-1738), que mandou erigir uma capela para resguardo do Ecce Homo, no coro baixo da Igreja do Convento.
A devoção e a fama dos milagres concedidos por intervenção do Senhor Santo Cristo dos Milagres alastrou de tal forma que, aquando da morte da religiosa, em 1738, o seu culto encontrava-se já espalhado por S. Miguel e outras ilhas dos Açores, chegando à corte de D. João V.



O fervor religioso dos açorianos pelo Senhor Santo Cristo está solidamente enraizado no povo, como símbolo de um forte elo de identidade cultural e religiosa.




Professora Elsa Gouveia

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terça-feira, maio 1

Amanhecer com os MAIOS!

Seguindo uma tradição muito antiga aqui nos Açores, no dia 1 de Maio, as varandas, as janelas e as praças, enchem-se de "Maios".



Bonecos feitos geralmente de "trapos" ou dos mais variados materiais, dependendo da originalidade de cada um.






Os "Maios" representam cenas da etnografia açoriana, como a cozinha tradicional, o acolhimento dos romeiros após um dia de romaria, as actividades atesanais, as tarefas agrícolas, etc.





Por vezes são também representadas cenas, que de uma forma muito divertida, criticam a sociedade, a política ou a situação económica.





As origens desta tradição remontam às festas pagãs de Roma antiga, em que o mês de Maio era celebrado como o mês das festividades à deusa Maia, considerada a deusa da fecundidade por excelência.



O “Maio” celebra a época das sementeias, o início da Primavera, a época da fecundidade e do florescer.



Em jeito de curiosidade, diz-se que é preciso levantar bem cedo no 1 de Maio para que o "Maio" não entre na pessoa, evitando assim que esta fique indolente e preguiçosa durante todo o ano.



Esta tradição continua viva nestes ilhéus graças aos incentivos das Câmaras Municipais que promovem concursos, à participação das escolas e de diversas instituições, bem como à iniciativa individual de alguns particulares.

Professora Elsa Gouveia

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